LUIZ GONZAGA CORTEZ *
No
dia 21 de abril de 1987, Maria do Céu Pereira Fernandes, que foi a primeira
deputada estadual do Rio Grande do Norte, irmã do falecido ex-governador José
Cortez Pereira de Araújo (filha de Olindina Pegado Cortez, irmã da minha avó
paterna), prima legítima do meu pai, Manoel Genésio Cortez Gomes, me concedeu
uma entrevista na residência do seu filho Paulo de Tarso, em Natal, publicada
no extinto semanário Dois Pontos. Eis o teor da entrevista:
COMO
A SOCIEDADE RECEBEU O LANÇAMENTO DA SUA CANDIDATURA PELO PARTIDO POPULAR?
MC
– Naquele tempo, eu fazia o que queria. Lia livros proibidos, inclusive sobre
comunismo e Freud. Sobre comunismo, por exemplo, eu li muito, mas não aceitei a
ideologia. Mas sobre a receptividade da minha candidatura posso dizer que os
remanescentes do tradicionalismo não aceitaram. Houve um certo impacto no
começo, mas depois a Igreja aceitou. Não houve choque nenhum, todos aceitaram
E
O SEU PAI, POLÍTICO TRADICIONAL E CONHECIDO CORONEL DA POLÍTICA DE CURRAIS
NOVOS, COMO VIU A SUA CANDIDATURA?
MC
– Eu tinha 24 anos naquela época. Sou de novembro de 1910. Papai não queria que
eu fosse candidata, mas não tomei conhecimento porque o que eu fazia era o que
achava certo. Veja bem, em 1934, eu tinha amigos e amigas, o que não era comum
naquele tempo. Com amigos, eu passeava e viajava. Você já pensou uma mulher de
24 anos passear na cidade com amigos? Passeava com Mário Porto, Eider Trindade
e outros grandes amigos. Fui eleita com o apoio do meu pai, Vivaldo Pereira, e
do meu noivo, Aristófanes Fernandes
LOGO
APÓS A ELEIÇÃO DOS DEPUTADOS PARA A ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE ESTADUAL OCORREU A
REVOLTA DOS CABOS E SOLDADOS DO 21º BATALHÃO DE CAÇADORES DO EXÉRCITO, EM
NATAL. COMO A SRA. VIU A REVOLTA?
MC
– Até gostei de ter havido a revolução comunista. Eu gostei que os comunistas
tivessem se rebelado. Gostei porque eles eram idealistas, mas não porque
quisesse participar, não. O Brasil estava se tornando horrível. Lendo o livro
“Olga”, de Fernando Morais, a gente fica sabendo como os comunistas eram
idealistas, mas não tinham meios, coitados, de dominar o Brasil. Como eles
iriam vencer num país-continente como o nosso? Como iriam arregimentar gente e
recursos para que pudesse haver um congraçamento de norte a sul? Se eles
tivessem se levantado de norte a sul, teriam conseguido a vitória. E foi bom
assim porque o povo brasileiro não está preparado para o comunismo. Ainda hoje
o Brasil não comporta o regime comunista, mesmo com toda a miséria e
ignorância.
A
SRA. TEM ALGUMA ADMIRAÇÃO PELO COMUNISMO?
MC
– Há muita coisa que não aceitamos no comunismo da União Soviética e de Cuba.
Eu tenho uma admiração e entusiasmo por Fidel Castro. Cuba não é o regime
ideal, mas só o fato de Fidel tirar o povo da situação anterior já é grande
coisa.
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