1 - ISABEL CRISTINE MACHADO DE
CARVALHO
2 - MANOEL PEREIRA DA ROCHA NETO
3 - FRANCINAURA MARIA DE ALMEIDA
Maria do Céu Pereira Fernandes nasceu no dia 06 de novembro
de 1910, em Currais Novos, Rio Grande do Norte e faleceu no Rio de Janeiro, no
dia 9 de maio de 2001. Filha de Olindina Cortez Pereira de Araújo e do
comerciante Vivaldo Pereira de Araújo, fez o primário em Currais Novos, estudou
com professores particulares, promotores, juízes, médicos.Era irmão do ex-governador Cortez Pereira
Do curso primário realizado no Grupo Escolar Capitão Mor
Galvão, teve aulas com o professor e juiz Gilberto Pinheiro. Na ocasião,
aprendeu português, história, geografia. Sempre disposta a aprender, Maria do
Céu relembra seus primeiros momentos de aprendizado e leitura: “Lá (Currais
Novos) não tinha mais o que aprender, mas fiquei estudando sempre. Eu sempre
gostei muito de estudar e ler com papai. Passei a ter aulas também com quem
chegava em Currais Novos e que sabia mais do que o ABC” (FERNANDES, 1997)
Motivada pelo pai, um participante ativo na política local e
nos movimentos religioso e literários da cidade, Maria do Céu, em 1924, aos 14
anos, vai para Natal cursar o secundário no Colégio da Imaculada Conceição. No
educandário, dirigido pelas irmãs Dorotéias, aprendeu além do inglês, o
italiano e o francês. Com a madre Cecília Barreto, fora dos horários da sala de
aula, aprendeu italiano. Nunca estava satisfeita. Sempre buscava mais
conhecimento. “Muita coisa eu aprendi muito particularmente, depois das aulas.
Eu não me satisfazia só com as aulas, não! Eu gostava muito de estudar”
(FERNANDES, 1997)
Após concluir, em 1928, o Curso Técnico do Comércio (diploma
de Perito Contadora), — embora desejasse cursar faculdade de Medicina — Maria
do Céu, agora com 18 anos, retorna a Currais Novos e vai lecionar tanto no
Ginásio particular Coronel José Bezerra quanto no Grupo Escolar Capitão Mor
Galvão.
Paralelamente à sua prática educacional de professora, Maria
do Céu dirigia O Galvanópolis, periódico que circulou em Currais Novos entre
1931 e 1932. Sobre sua prática jornalística, Maria do Céu relembra:
Eu escrevia... até fundamos um jornalzinho em Currais Novos,
O Galvanópolis. Fundei com papai e um outro amigo de papai. O primeiro nome era
Currais Novos, mas papai tinha muita vontade de mudar o nome de Currais Novos
para Galvanópolis, porque foi fundado por um Galvão, que se instalou lá, abriu
e fez os currais novos (FERNANDES, 1997).
Embora fosse um órgão oficial do Currais Novos Futebol Clube
(C.N.F.C.), o jornal acabou configurando-se como um dispositivo discursivo
permeado de representações que adornaram o quadro cultural, político, econômico
e social da cidade:
Realçando os valores da nossa terra, cultuando as suas
tradições gloriosas, seremos uma sentinela vigilante a pugnar com o maior
denodo e altivez pelos seus interesses vitais. É o que prometemos e esperamos
realizar (O GALVANÓPOLIS, n. 1, Ano 1, 30 mar. 1931, p. 1).
Os escritos de Maria do Céu Pereira registrados no jornal
permitem ver as marcas de um determinado tempo condicionado às transformações
que a sociedade brasileira vivia naquele momento histórico. Nos seus textos,
registrados quase sempre na primeira página do jornal, foi possível identificar
sua preocupação em discutir categorias como: religiosidade, patriotismo,
civismo, moral, condição da mulher, progresso e cultura letrada. Destacamos os
artigos: Comunismo, publicado no dia 7 de fevereiro de 1932; O atestado da
religiosidade brasileira, registrado na edição de 11 de outubro de 1931 e Onde
está nosso campo de atividade, de 22 de novembro de 1931 e Livros, veiculado em
30 de agosto de 1931
Nesse último artigo, Maria do Céu assume, portanto, uma
postura em defesa de uma cultura letrada. Comprometida em orientar a juventude
de sua cidade, mostra-se preocupada com a relação desses jovens com os livros.
Busca orientar e aconselhar seus leitores sobre a importância da prática de
leitura dos bons livros, indispensáveis para a formação intelectual e moral.
Dessa forma, Maria do Céu deixa no jornal vestígios de como se desenrolava a
educação dos jovens
Sob a forte influência da efervescência dos jornais, O
Galvanópolis deveria contar uma história de progresso e desenvolvimento, com a
difícil missão de convencer a população da urgência na substituição dos antigos
hábitos por outros, considerados mais civilizados. No primeiro número do
jornal, a diretora Maria do Céu revela aos seu conterrâneos a alegria do
grandioso acontecimento representado pelas primeiras folhas desse novo
periódico:
Elas vem com a singeleza e a timidez de quem ausculta
ambientes desconhecidos, a reclamar guarida no seio dessa boa e generosa gente
para uma estação o mais duradoura possível. Elas estão despojadas de reclamos
relumbantes e de apresentações pomposas. Visam é cooperar com todo o ardor, com
todo o entusiasmo pelo engrandecimento geral da nossa terra e exaltar os
méritos e o valor inconfundíveis da nossa gente. O nosso povo, já por um
sentimento atávico, já impulsionado pela invasão irresistível das inovações
sublimes que nos apresenta esse decantado século XX, é arrebatado pelos mesmos
frêmitos de amor aos nobres ideais que se concretizam em outras terras. (O
GALVANÓPOLIS, n. 1, Ano 1, 30 mar. 1931,
O editorial de lançamento do jornal nos revela o
comprometimento do jornal: seria com as letras e o esporte. No que se refere às
letras identificamos nos textos produzidos no Galvanópolis a prosa ou poesia.
Crônicas, ensaios, notas, contos, colunas, entrevistas, editorial, ocupam mais
da metade do espaço do jornal; enquanto a poesia, ficou em segundo plano.
Quanto ao esporte, a temática merece lugar de destaque no periódico, sempre
publicado na última página registrando os movimentos esportivos realizados na
cidade de Currais Novos, a exemplo dos campeonatos de futebol que aconteciam
regularmente tendo o time do município como ator principal. Os jogos entre os
clubes da região dinamizavam as tardes de domingo em Currais Novos e
sinalizavam o desejo de despertar nos jovens o culto ao corpo, através da
prática de atividades físicas, particularmente o futebol. Na abertura do texto
em que aparece a entrevista com o presidente do Currais Novos Futebol Clube,
Maria do Céu transmiti aos seus leitores a importância dos exercícios físicos:
Quando Maria do Céu casou a 22 de agosto de 1935
com Aristófanes Fernandes, já era, então, deputada estadual. O casamento
aconteceu em uma fazenda de Santana do Matos, município do Rio Grande do Norte.
com isso, duras repressões que fizeram história aquela
campanha eleitoral. Nesse período, Maria do Céu Pereira Fernandes, juntamente
com outros nomes do Partido Popular a exemplo de Aldo Fernandes Raposo de Melo,
Dioclécio Dantas Duarte, João Severiano da Câmara e José Augusto Varela,
presenciou uma época de violência e assassinatos políticos, mas onde prevaleceu
um forte ideal político:
O resultado final das eleições no Estado é anunciado no dia
16 de outubro de 1935. O Tribunal Superior Eleitoral divulga a vitória do
Partido Popular, que elege 14 deputados estaduais contra 11 da Aliança Social.
Maria do Céu obteve 12.058 (doze mil e cinquenta e oito) votos. Torna-se,
então, a primeira deputada estadual do Brasil, no Rio Grande do Norte. Nessa
eleição, ainda, saem vitoriosos três deputados federais do Partido Popular e
dois da Aliança Social. Ainda neste mesmo dia, fica decidida a convocação para
a instalação da Assembléia Constituinte para o dia 19 de outubro e o pleito do
primeiro governador constitucional do Estado para o dia 29 de outubro de 1935.
Vence Rafael Fernandes, pelo Partido Popular
Maria do Céu pertenceu à Primeira Assembléia Constituinte. Em
1937, foi cassada pelo Estado Novo. Embora o período de imensa sublevação tenha
ocorrido, principalmente, nas campanhas eleitorais, de acordo com Barreto
(2003), Maria do Céu, durante seu mandato legislativo, foi várias vezes
ameaçada de sequestro e tinha soldados guardando sua casa.
Maria do Céu encerrou seu mandato, após sua cassação, em
1937, com o golpe do Estado Novo. Deixa, então, a vida pública para se dedicar
à família. Em 1960, passa a residir no Rio de Janeiro, somente voltando para
Natal após a morte de seu marido Aristófanes Fernandes, em 1965. Faleceu em
2001, no Rio de Janeiro, aos 90 anos. Por ocasião do seu falecimento, o então
governador do Estado, Garibaldi Alves, decreta luto oficial de três dias.
Segundo Azevedo (2005, p.3), “Maria do Céu Fernandes entrou para a história não
só por abrir as portas do legislativo para as mulheres, mas também ter sido na
visão de muitos historiadores, como a melhor oradora do seu tempo de atuação
parlamentar”.
Trazer à tona as participações femininas na história da
imprensa brasileira, dentre elas a de Maria do Céu Pereira é o que faz da
história das mulheres algo tão necessário. Por isso é que nos propomos a
desenvolver esta pesquisa, que oferece sua parcela de contribuição à História
das Mulheres no Brasil, especialmente no Rio Grande do Norte.